17 de jul. de 2014

Vizinhança do barulho

Você pode pensar que começarei a falar da barulheira que meus vizinhos fazem, de como isso me atormenta; pode também pensar que eu sou o vizinho chato que ligo o som bem alto e não estou preocupado com o outro; e também pode pensar no seu vizinho. É como se fosse uma tribo, são vários tipos de vizinhos.

Ser vizinho de músico pode não ser tão legal quanto parece, até porque o músico mais estuda do que trabalha. E para quem não sabe, um bom instrumentista passa horas praticando os mesmo sons, o que pode ser o mesmo barulho para seu vizinho. Bateria, guitarra, sax, pode ser a música que você mais gosta, dez vezes por dia uma frase faz qualquer vizinho pirar.

Tem o vizinho que jura ser DJ. Coloca músicas aleatórias no máximo, às vezes chiado nas caixinhas do computador. Atormenta com pop, rock, axé, funk, eletrônico. Quem não tem um vizinho assim? Se você não tem, seu vizinho tem, com certeza.

Meus primeiros amigos, quando fui embora de BH, eram meus vizinhos. Em Foz do Iguaçu era normal ter vizinhos de diferentes nacionalidades, culturas diversas. Lembro perfeitamente que meus amigos eram árabes, coreanos, paraguaios, chineses, tinha até brasileiro. Nós convivíamos perfeitamente, éramos unidos pelas brincadeiras, entre elas o futebol. Todo vizinho já teve um time de futebol da rua, do bairro.

Toda vizinha tem aquele bom de bola, aquele brigão, a vizinha bonita, a mal falada, a fofoqueira e também o fofoqueiro. Quem nunca teve por perto alguém que deu trabalho aos pais desde muito cedo? Aposto que não era só na minha rua que tinha aquele menino travesso que apertava a campainha dos vizinhos e saía correndo, ou aquele que ligava passando trote com a voz mais conhecida do bairro - e ele tentava disfarçar.


Sempre tive vizinhos de várias partes do mundo. Até hoje eu tenho contato com alguns, mesmo morando longe. Um deles, que foi meu vizinho em Foz em 1993, é meu amigo virtual e acompanhamos nossas vidas pela internet. Não deixamos ser vizinhos.

Não sei por que mas á única vez que não fiz amizade com meus vizinhos foi quando voltei a morar em BH. Se eu falar você não acredita, mas fui descobrir o nome do meu antigo vizinho - que morou ao meu lado por uns dois anos - no grupo do bairro no Facebook. Acredita nisso? E o atual vizinho que não está no grupo, como faço para conhecê-lo? Não cumprimenta, sua janela dá para meu quintal, eu olho pra ele e ele me olha, e é incapaz de acenar.

Entre vizinhos não pode haver brigas, conflitos, é preciso haver entendimento. Imagine você, que mora em apartamento, discutir com seu vizinho de baixo porque ele torce pro seu rival e todo jogo escuta os gols no máximo; segunda cedo os dois saindo para trabalhar, dentro do elevador, aquele clima ruim de segunda com sono, os dois rivais se olhando e acaba a luz no prédio. Presos no elevador. Guerra ou paz?

Vizinhos de porta, de bairro, de cidade, de país. Se nos odiarmos por não termos os mesmos gostos, os mesmos hábitos, a quem pediremos açúcar domingo à noite, como pediremos para pegar a bola que foi mais alta que o muro?


Vizinho é como parente chato - ou sogra -, não há como evitar.

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