23 de mai. de 2014

Carta à Badi Assad (2)

Assistir ao show da Badi Assad é certeza de inspiração, surpresa, emoção, encantamento. Não há como sair do teatro sem vontade criar algo, nem que seja uma simples carta que provavelmente ela não lerá. Mas não tem como sair de mente abanando.

É a quarta vez que vejo a Badi de frente e cada vez parece a primeira. Até porque seus shows não devem se repetir. Uma artista singular, única, incapaz de seguir as "regrinhas" da indústria musical.

Ainda bem que existem artistas da mais alta qualidade desafiando essa indústria da música quadrada, do refrão fácil, das letras bobinhas e alegres. Badi nos faz pensar, refletir.

BH - 22/05/2014 - Foto: Daniel Kersys

O domínio de palco é sensacional. O violão é extensão de seu corpo, ela toca e anda pelo palco; toca e dança; toca e encanta; toca e canta. Sua voz maravilhosa transita entre o suave e o berro, entre os vocalizes e as falas sutis.

É muito complicado escrever sobre o show. Mistura muita emoção. Sou fã da Badi desde o primeiro encontro. E vou falar como foi.

Eu fazia aula de guitarra, queria tocar um pouco de hardcore, punk, essas coisas. E meu professor, percebendo que eu sou uma pessoa aberta, me mostrou um vídeo de uma entrevista em que tocava "Asa branca" com os vocalizes, percussão vocal, violão, tudo junto. Aquilo fez meu mundo parar. Eu nunca mais quis tocar hardcore. Nem ouvi mais.

Comecei a procurar pelas músicas e tudo mais sobre o trabalho da Badi. Sou fã mesmo.

Eu tenho uma ligação tão forte com a música que sempre que conheço alguém que conversa comigo sobre música eu falo, você conhece a Badi Assad? Apresento o som e a pessoa gosta, na hora. Me sinto como o menino que é dono da bola nova um dia depois do natal.

Ontem no show estávamos em cinco. Eu apresentei o som para as outras quatro pessoas. Todos nós na segunda fileira do teatro ouvindo e babando, admirados. No final do show a resenha foi assim: puta merda, o que é isso! Inacreditável! Não é possível, é sensacional!

Existe tudo isso em relação à Badi, sua música, seu talento. Mas o que mais me deixa encabulado é com a humildade dela. Uma artista do nível dela sentar numa cadeira, de chinelo havaiana, conversar e assinar os CDs que vende após o show. Sinceramente, ela poderia chegar no palco, tocar suas músicas, mostrar toda sua virtuosidade, suas técnicas incopiáveis, achar ruim do teatro não estar lotado, ir embora e nem falar nada.

Pelo contrário, Badi é a simpatia em pessoa, no palco e fora dele. Muito feliz em poder vê-la. Eu sempre quis entregar a ela uma letra que fiz que sonho em ouvi-la cantar, mas isso já muita arrogância minha, eu acho. Mas o que eu fiz foi deixar um exemplar do meu livro com ela. E o melhor, ela olhou a capa e a contra-capa e sacou a ideia e disse, linda a capa do seu livro; e riu da brincadeira dos títulos.

Eu, que já havia ganho a noite, apliquei uma goleada depois dessa! O sorriso de orelha a orelha.

Badi Assad deve ser a única pessoa no Brasil que sobe no palco com o violão que ninguém tem coragem de gritar: toca Raul!


***

Aqui está a carta 1.

Um comentário:

Alexandre Nami disse...

Sensacional Negão, fiquei muito feliz por voce.